sábado, 18 de fevereiro de 2012

O Método Socrático na Contemporaneidade

sócrates foi um dos filósofos baluartes da Filosofia Antiga, com seu jeito irreverente passeava pela polis grega filosofando e fazendo outros filosofar, como nos revela os registros de sua vida através de seu discípulo Platão.
Ele é visto por muitos como o patrono da Filosofia Ocidental e da Filosofia Racional, pois antes dele o conhecimento mergulhava na mitologia, na Filosofia cosmológica, ou mesmo, em uma prática persuasiva envolvendo a oratória e a retórica como é o caso dos sofistas.
Nos escritos de Platão está ilustrada a forma em que Sócrates filosofava, procurando mostrar através do diálogo o quanto as pessoas eram ignorantes naquilo que julgavam saber e que, geralmente, o que eles emitiam nada mais era do que um simples doxa (opinião) em vez de emitirem um conceito fechado, universal, imutável, ou seja, para Sócrates o importante é a busca da verdade, da essência das coisas.
Como um ferreiro utiliza ferramentas em seu trabalho, Sócrates também tinha seus instrumentos. Ele usava um método que lhe foi atribuído o título de criador, o chamado "método socrático".
Sócrates ao se encontrar com as pessoas logo iniciava um diálogo, no qual permitia ao sujeito expressar suas ideias, opiniões, interpretações do mundo, isto ocorria com a influência do que chamamos de A Ironia de Sócrates, nome justificado em virtude da postura do filósofo diante de seu interlocutor mostrando ser um ignorante, um leigo no assunto, o que despertava no comunicador a liberdade em falar.
Todavia, no decorrer da conversação Sócrates encontrava “buracos”, falhas, erros no argumento, nas ideias dos sujeitos, doravante os discursos eram pautados em conceitos relativos, mutáveis, deformados. Um exemplo claro nos registros da vida de Sócrates é quando ele passeava por Atenas e encontrou em cidadão que estava direcionando-se a um local para realizar uma palestra sobre beleza, logo Sócrates perguntou: “... mas o que é a beleza?”; o palestrante tenta exemplificar, contudo não consegue conceitualizar, o patrono da Filosofia vai assim revelando ao palestrante através de perguntas o quanto este não sabia nada daquilo que iria falar.
O que é interessante no método socrático, além das perguntas, dos questionamentos que vão podando o conhecimento dos sujeitos, é que o filósofo no caso de Sócrates, não possui a verdade pronta, como um produto a ser vendido, mas o trabalho filosófico é fazer que através da Filosofia os sujeitos encontrem a verdade. Escolhendo, muitas vezes, o caminho arenoso da reflexão acerca das coisas.
Agora façamos uma viagem no tempo voltando para o século atual, muitas mudanças na Filosofia, na cultura, na sociedade, na visão de homem e de mundo aconteceram, entretanto, será que as ideias de Sócrates foram abandonadas? Alguém ainda as utiliza?
Como filha da Filosofia, a Psicologia foi amamentada por muitos séculos no “seio” de filósofos, cujo leite era suas ideias e como uma crença que se desenvolve e começa a andar com suas próprias pernas, assim, ocorreu com a Psicologia de uma forma geral.
A Psicologia na sua construção foi revelando-se como uma forma de saber multifacetado, argumento realista mediante as várias abordagens hoje encontradas a saber: Terapia Cognitivo-Comportamental, Humanismo, até mesmo a própria Psicanálise entre outras.
Eis a pergunta: O que teria haver o método socrático com a Psicologia Contemporânea? A resposta pode ser encontrada em um das correntes psicológicas, na Cognitivo-Comportamental, também conhecida como TCC.
A TCC entende o homem na sua relação com o meio e na interpretação que este faz deste meio, avaliando o processo da informação e o funcionamento mental, analisando as disfunções cognitivas e comportamentais tão prejudiciais à vida do sujeito.
O terapeuta cognitivo-comportamental possui ferramentas, ou melhor, técnicas que o auxiliam em seu trabalho, entre estas técnicas encontra-se o questionamento socrático, bem próximo da prática ou Filosofia de Sócrates.
O terapeuta assim como o filósofo busca primeiro as ideias, a fala, o discurso do cidadão ou paciente, mediante a total atenção voltada ao sujeito o que lhe desperta a liberdade de se expressar, assim como A Ironia socrática. No transcorrer da terapia o psicólogo cognitivo-comportamental vai percebendo as falhas, o viés prejudicial na maneira de enxergar o mundo, analogamente aos buracos da argumentação sobre as coisas que Sócrates tentava mostrar aos seus concidadãos.
O trabalho do terapeuta é ajudar o paciente a olhar a realidade de forma racional, através de uma reestruturação perceptível do mundo e da sua própria vida, bem parecido com a intenção de Sócrates de revelar a verdade.
Há um ponto de congruência total nesta relação, assim como Sócrates não estava com a verdade pronta, assim é o terapeuta, ele não possui a relação imediata, porque esta depende da descoberta individual do sujeito, da sua idiossincrasia. O que ambos fazem na verdade é ajudar o outro a “parir” (maiêutica) ideias ou pensar de forma mais saudável, mediante à perguntas que vão abrindo reflexões transformadoras.
Desta maneira, podemos notar a influência de Sócrates, que remonta a antiguidade, no conhecimento científico atual, que possibilita pensar que podemos nos tornar imortais nesta terra mão na forma corpórea, mas na forma platônica, assim como Sócrates se tornou.

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